NOSSA SENHORA ACHIROPITA
SUA HISTÓRIA
NOSSA SENHORA ACHIROPITA
Semear é sempre um ato de coragem e de tanta humildade. Nós poderíamos comer as sementes, pois elas nos alimentam o corpo e alegram o paladar. Mas preferimos semear, pois a colheita será sempre mais abundante. Nem sempre colheremos, mas outros colherão e a nossa vida ganha sentido, quanto plantamos para alimentar a humanidade.
Hoje comemoramos 80 anos de caminhada Achiropita-Orione. Este é o binômio mais querido de nossa devoção. Lá do norte da Itália veio para nós o “homem dos impossíveis”, homem que “onde chega tudo incendeia pela caridade, como o carro de fogo de Elias”. Estas foram as palavras do Papa Pio XII, há tantos anos, tantas décadas mesmo. Lá do sul da Itália, veio formosa, nas malas e nas devoções dos calabreses, a Mãe Achiropita.
Nossa comunidade se nutre destas sementes de fé e de mediação. Vamos recordar estas devoções, para reavivar nossa fé. Com Maria, reavivamos nosso amor ao seu Filho Jesus. Ela que não foi pintada por mãos humanas, é fecundada em nossos corações.
Com Luis Orione, reavivamos nosso compromisso com os pobres. Ele que foi grande servidor da Igreja e do povo, nos ilumina em nossa caminhada.
No segunda metade do século XIX, houve um grande movimento imigratório da Europa, na direção de vários países. Muitos países receberam milhares de imigrantes, vindos da Italia, da Alemanha, Espanha, Polônia e França. Os países da emigraçao foram sobretudo os Estados Unidos e Canadá, a Austrália, alguns países da Africa e particularmente o Uruguai, Argentina e Brasil, na América do Sul.
Neste mesmo período, surgiram inúmeras congregações religiosas, especialmente na França e na Itália, como esforço da Igreja de atender as massas populares que se aglomeravam nas cidades e que abandonavam a Igreja, fascinadas pelos movimentos socialistas anti-religiosos.
Uma grande massa de imigrantes vieram para as terras brasileiras, particularmente nos estados do Sul. Quando estes imigrantes eram protestantes, fundavam cidades, com igrejas protestantes. Na maioria das vezes, estas comunidades eram italianas e traziam o catolicismo como religião tradicional.
Neste período, vem para o Brasil e para a América Latina muitos religiosos, pertencentes a estas congregações religiosas. Na verdade, grande é também o contingente de sacerdotes do clero secular. Estas congregaçoes são muito importantes na formação dos filhos de imigrantes, no amparo das crianças abandonadas, nos cuidados dos hospitais e nos asilos de idosos.
Algumas congregações vieram com o objetivo de proteger e educar na fé as famílias dos imigrantes. Em terras brasileiras, dedicavam-se às instruções dos filhos de escravos, expulsos das fazendas de cana de açúcar e café e jogados nas periferias das cidades.
Destacamos algumas destas famílias religiosas, como os salesianos, na educação dos jovens, as irmãs de Villeneuve, na defesa das mulheres, os escalabrinianos, na defesa dos imigrantes, os camilianos no socorro dos doentes, os dominicanos, na evangelização dos filhos do povo. Reconhecemos a presença das Irmãs da Caridade de Santa Paulina. Em todas as igrejas, nota-se a presença dos religiosos ou leigos vicentinos, socorrendo os pobres em suas primeiras necessidades.
Destacamos a presença dos Filhos e Filhas de São Luís Orione, que se dedicaram à educação dos filhos de escravos, camponeses, caboclos e particularmente os deficientes fisicos e mentais. Os religiosos lazaristas e os maristas dedicaram-se às escolas e ao amparo dos jovens mais pobres.
Estas congregações continuam sendo uma presença importante na Igreja e na sociedade brasileira, servindo sempre no socorro aos pobres e na defesa dos direitos dos povos mais empobrecidos (do livro: A.S. Bogaz – R.C. Thomazella. Edificar a Igreja. 2005).
Neste período, uma grande multidão de imigrantes europeus, sobretudo italianos, veio para o Brasil, fugindo das guerras internas e da grande miséria que assolava as várias regiões da Itália, em constante conflito entre si, antes e depois da unificação, em 1870. Os italianos ocuparam as regiões sul do Brasil, constituindo cidades e novos povoados e desenvolvendo a agricultura e as pequenas propriedades. Para as regiões do sudeste, especialmente interior de São Paulo, vieram italianos do norte do país, tornando-se a mão de obra mais especializada das plantações de café e agricultura de subsistência. Anda hoje, seus descendentes ocupam estas terras e povoam estas regiões, deixando grande herança cultural e religiosa.
Em São Paulo, particularmente nas regiões da Mooca, Campos Elísios, Brás e Bela Vista (Bixiga) se instalaram os italianos que vieram do sul da Itália, especialmente da Calábria. Vieram para trabalhar nas fábricas e desenvolveram a gastronomia. Neste universo migratório, vieram os imigrantes da região da Calábria, que trouxeram a devoção dos santos mais populares, especialmente Nossa Senhora Achiropita. Trata-se de uma história maravilhosa e cheia de encantamento que ainda hoje é narrada por seus descendentes mais tradicionais. A história merece ser contada e transmitida às gerações futuras, para que não se percam as suas raízes culturais e religiosas.
A devoção a Nossa Senhora Achiropita é uma surpresa para muitos católicos e para muitos paulistanos não passa de uma grande festa no Bairro do Bixiga, na grande metrópole de São Paulo. No entanto, é um título muito importante e tradicional dentre todas as ladainhas de nossa devoção mariana. Sua tradição remonta muitos séculos e atravessou a história da Igreja por séculos até ser trazida pelas famílias italianas que emigraram para o Brasil na segunda metade do século XIX. Os italianos que trouxeram a devoção se instalaram na periferia da cidade de São Paulo, sobretudo na Chácara de um senhor cognominado “Seu Bixiga”; talvez seu apelido, talvez simplesmente por marcas no corpo, devido a uma epidemia de varíola que também o acometera, naqueles tempos. São histórias contadas, não tanto comprovadas ou registradas documentalmente.
As famílias trouxeram esta tradição e quando se instalaram naquela região, iniciou-se a expandir a devoção, que foi ganhando novos espaços na religiosidade popular da comunidade católica da cidade. Entre outras devoções que foram trazidas, a mais importante e que mais se firmou foi a devoção à Nossa Senhora Achiropita.
Registramos, no entanto, as devoções a São José, ao qual foi dedicada uma pequena capela, próxima à atual sede paroquial. Esta devoção foi o primeiro titulo da comunidade, sendo substituída mais tarde pela titulação atual. São José ainda é muito venerado na comunidade e na sua festa distribui-se um quitute italiano chamado “zeppoli”, que é muito apreciada e recorda as tradições longínquas das cidades da região da Calábria, na Itália.
Vieram ainda outras tradições, seja a devoção a San Fillipo D´Agira, que é celebrado pela comunidade de sua cidade natal, Laurito, sul da Itália. Ainda existem muitos descendentes destas famílias e que se encontram para confraternizar com comidas e danças folclóricas, além da celebração eucarística, como cantos e textos em língua autóctone. Ainda foi trazida a devoção a Nossa Senhora da Ripalta, que foi trazida pelos italianos emigrantes da região de Cerignola, também no sul da península itálica. Ela tem um altar especial na Igreja Achiropita.
Mais tarde, para registrar a totalidade das devoções, os padres orionitas, filhos da Divina Providência, trouxeram a devoção a São Luís Orione, que alargou o campo das devoções e marca fortemente a comunidade paroquial com as atividades caritativas e sociais. Neste campo de caridade e promoção social são atendidas mais de 1000 pessoas diariamente, sejam crianças, jovens, adultos, idosos, tóxico-dependentes e moradores de rua. Os padres de São Luís Orione animam, desde a instituição paroquial, na década de 30, do século XX, as atividades pastorais e sociais, tornando-se uma referência para a ação concreta da mensagem evangélica.
Corria o ano de 580 da era cristã. Um capitão estava navegando no Mar Mediterrâneo, quando foi assaltado por uma grande tempestade. No meio das labutas e do desespero de todos seus marinheiros e na eminência de morrerem afogados, tal capitão elevou aos braços ao céu e clamou por um milagre.
– Se eu chegar à costa da península, com toda tripulação, ergueremos com nossos braços e nossas mãos um santuário para a Mãe de Deus.
Recordamos que poucas décadas antes, a Igreja tinha proclamado o Dogma Theotókos – Mãe de Deus, no Concílio de Éfeso (451).
Em poucos instantes, a tempestade desapareceu, o céu serenou e as águas se acalmaram.
Navegaram e aportaram num vilarejo ribamar, Rossano Cálabro. Na região, numa gruta silenciosa e afastada na montanha, morava um monge, nominado Éfrem. Chegou ao mesmo tempo naquela praia abandonada e distante e deparou-se com os marinheiros na praia, famintos e esfarrapados.
Sua expressão ficou registrada na memória dos tempos: “Não foram os ventos que lhes trouxeram até aqui, mas Maria, a Mãe de Deus”. Então, o referido monge conduziu ao centro do vilarejo os tripulantes salvos da tempestade marítima e lhes apontou o lugar exato da construção do novo santuário, conforme tinha-se revelado em sonho. Neste sonho, Maria lhe aparecera e indicara o lugar exato daquela construção.
Foram longos meses de construção e depois de tanto trabalho deu-se a consagração do novo templo, com uma grande festa. Na ocasião, o tal Capitão tinha sido coroado Imperador daquela porção do Império, com grande festa. Assim, a região foi cristianizada pela graça de um imperador cristão e católico.
Com seu poder e sua crença, procurou em toda região grandes pintores para retratar a imagem de Nossa Senhora, conforme a descrição do sonho do Monge Éfrem. Entre tantos pintores, um velho ancião, com tanta experiência e tanta fama de grande pintor, iniciou a pintura, sob a vigilância do monge. A pintura tinha que ser perfeita, como na sua visão.
E, no entanto, algo estranho aconteceu. Melhor, acontecia; todo trabalho de pintura do artista durante o dia, a cada dia, desaparecia durante a noite. Como a cena se repetia, o artista procurou o Imperador Maurício e o Monge Éfrem para narrar o fato. Estes começaram a acompanhar os acontecimentos curiosos e estranhos e constataram que ocorriam estes fatos tão inexplicáveis.
Para estancar o acontecimento e considerando que se tratava talvez de algum malfeitor que apagasse a obra, como forma de despeito e profanação, reuniram todos as autoridades do vilarejo.
Não tinha jeito, mesmo sem ninguém entrar no templo à noite, a figura desaparecia na calada da noite. E assim, repetidas vezes.
– Temos que fazer algo, dizia o imperador. Não consigo entender o que está acontecendo.
Mais místico, o monge retrucava com paciência e com jeito:
– Deve ter algo misterioso, mais que isso, algo milagroso. Deve ter as mãos dos anjos.
Passaram os dias e estava chegando o dia da bênção da esperada imagem da Mãe de Deus. E a imagem sempre desaparecia. Contrataram guardiões e cuidaram da porta da Igreja. Ninguém poderia entrar, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Ninguém podia entrar.
Num entardecer, surge uma senhora, muito singela, com uma criança nos braços e pediu para rezar no templo. Depois de muita insistência e resistência dos guardiões, compreenderam que a jovem senhora não podia fazer nada de mal no templo. Não tinha jeito de malfeitor e ainda mais, com uma criancinha angelical nos braços.
Entrou e os guardiões ficaram ansiosos. Ficaram na expectativa e a senhora não saia, conforme prometido. Passavam os minutos e pequenas horas e anoitecia. A mulher não saia nunca.
– Será que fomos enganados? Ludibriados por uma gentil senhora.
– Aquele rosto muito angelical… Será que…
E decidiram entrar, na escuridão do templo e estavam muito assustados. Gritavam por ela sofregamente. Gritavam e nenhuma resposta. Gritavam mais e mais.
Num instante, diante de seus olhos assustados, uma luz se iluminou, iluminou celestialmente.
E viram com grande espanto e emoção uma imagem tão linda, tão formosa.
Só poderia ser a Mãe de Deus. A Mãe de Deus, Nossa Senhora.
Saíram gritando pelas ruas. Felizes como crianças encantadas.
– Madona, Madona Achiropita. Madona, Madona Achiropita.
O povo acorreu ao templo e viram o grande milagre, que se desvelou aos olhos de todo povo, especialmente o grande Imperador Maurício. Ninguém continha o Monge Efrém de tanta alegria, de tanta felicidade. Era a própria imagem celestial da Mãe de Deus, de Nossa Senhora Achiropita.
Espalhou-se a devoção do grande milagre. Madona Achiropita; Nossa Senhora A-Kirós-Pita. Nossa Senhora A (não) Kirós (mãos humanas) Pita (pintada). Eis a grande devoção, secular, que toca tantos corações de cristãos ao longo dos séculos. Nossa Senhora não pintada por mãos humanas.
Eis a devoção que o povo italiano trouxe para nossa cidade de São Paulo e que se espalhou para tantos lugares. Seu olhar bonito e celestial retrata a ternura da Mãe de Jesus e o jeito de ser das mulheres calabresas.
São dois testemunhos diferentes, que rememoram a chegada da imagem que é venerada na Igreja Achiropita. Registramos os dois testemunhos. Primeiramente o testemunho do casal Armando Mellita e Yolanda de Almeida Mellita.
“O Sr. Isidoro Melito contou para seu filho Armando e sua Nora como foi a vinda da imagem de Nossa Senhora Achiropita ao Brasil. Ele já estava no Brasil alguns anos antes e os calabreses queriam ter aqui a imagem da madona Achiropita. Mandaram fazer uma réplica em 1904. Quando ficou pronta o Sr. Benedito Biaggio Mellita e Angelina Mellita (irmão do Sr. Isidoro) colocaram a imagem numa caixa feita de caixotes de cebola toda envolvida de palhas porque eles tinham medo que quebrasse. Embarcaram no navio e ficaram junto com a imagem no porão até desembarcarem no porto de Santos. Depois foi trazida até o Bixiga. Quando aqui chegou os calabreses se reuniram para receber e desencaixotar a imagem, e eles foram tomados de profunda emoção ao ver que esta não sofreu nenhum arranhão, estava perfeita e linda. Os calabreses trouxeram esta imagem e nos ensinaram esta devoção que nós cultuamos até os dias de hoje.”
O segundo testemunho de da Sra. Anna Arnone, que assim descreve:
“O vovô Antônio Sapia contava que os calabreses sentiam muita falta de ter aqui Nossa Senhora Achiropita, e pediram aos patrícios que mandassem uma réplica da pintura. Depois de algum tempo aqui chegou uma estampa num rolo com um laço de fita.
Sua tia Achiropita Sapia era encarregada de todos os dias abrir a pequena capela, (que nada mais era que um quarto), com uma chave muito grande que era guardada em sua casa, e acender as lamparinas de óleo. Nesta capela tinha um quadro de São José no centro, depois foram colocados os quadros de Nossa Senhora Achiropita com a estampa recebida da Calábria, e o de Nossa Senhora da Ripalta que veio de Cirignola.
Seu Antônio Sapia ia às feiras para arrecadar donativos, e entregava ao Sr. Luiz Tenalia que era empreiteiro, e este tocava a construção da igreja. Quando o dinheiro terminava as obras paravam, até que conseguissem mais doações para continuar”.
São histórias distintas, difíceis de ser definida como de fatos ocorreram os acontecimentos, dada a distância do tempo e as pessoas envolvidas estão no paraíso. Assim, registramos os fatos para que possam ser preservadas suas memórias.
A imagem original de Nossa Senhora Achiropita se encontra no grande templo-basílica de Rossano Cálabro e é forte em reverência. Trata-se de uma imagem em afresco, com traços suaves e firmes, do jeito das mulheres camponeses calabreses. Sua conversação é muito cuidadosa e tratada com esmero e atenção, para não ser destruída pelos séculos longos.
A imagem que é venerada na Paróquia Nossa Senhora Achiropita, na Bela Vista, em São Paulo, é um fac-símile de uma estátua em ouro e prata que está na Igreja da cidade original. Em nossa igreja paulistana sua imagem é de uma grande beleza artística, com um olhar penetrante e terno. As cores de seu manto representam o azul celestial e a leveza alva dos anjos. Carregando o menino Jesus em seus braços, manifesta a grandeza de uma mãe, tão cuidadosa e atenta, que olha para seu Filho, sem desviar seu olhar dos fiéis que estão sob seu olhar.
A figuração da imagem representa as formas estéticas das mulheres da sua região, inclusiva o biótipo mais próximo das etnias árabes. Trata-se da herança da presença dos povos otomanos e árabes na região, nos séculos anteriores.
Mais interessante ainda é um detalhe que chama muito a atenção dos fiéis: o uso de brincos. Seus brincos são singelos e muito valiosos; não no sentido econômico, mas como relíquia que é tocada pelos fiéis, suplicando proteção e graças divinas.
Todos que acorrem à Mãe de Deus na Paróquia Nossa Senhora Achiropita, se emocionam com este ícone celestial, expressão artística de uma comunidade de fé, que procura seguir os caminhos de Jesus.
Normalmente, quando vemos uma obra finalizada, nunca imaginamos bem os caminhos e as dificuldades do caminho, em todos os seus anos de crescimento e de formação.
Quando vemos nossos jornais informativos, bem como as forças vivas de nossa paróquia, nem imaginamos todos os passos que foram dados até nossos dias.
Então começamos a folhear velhos álbuns e tomamos consciência que somos filhos e netos de antigas gerações. Nossa comunidade que foi frágil em suas origens e que hoje é fortalecida na fé pela tradição, pelos nossos santos de comunidade e pelas histórias de fé e dedicação aos pobres, nunca pode se esquecer daqueles que foram erigindo nossa comunidade. Foram pedras vivas, gente corajosa e sem preguiça, dispostas a dedicarem longas horas e finais de semana para a evangelização. Antes de tudo, fiéis assinalados por uma fé verdadeira e sem limites. Gente com capacidade de doar e ofertar seus bens, para que Maria fosse exaltada com mais alegria e Jesus Cristo fosse acreditado com entusiasmo.
Nasceu e cresceu a Paróquia Achiropita, conhecendo suas festas civis e religiosas, homenageando nossos pioneiros na fé, padres, irmãos e religiosas, que se esmeraram na evangelização e na guia da comunidade e os clãs oriundos da Bela Itália, da Bela África, do Belo Nordeste, dos rincões do Sul e de tantos lugares.
A comunidade recorda a vida de fé destes fiéis, suas práticas religiosas e as devoções mais significativas, como Nossa Senhora da Ripalta, São Filippo e São Benedito.
Os antepassados seguiram na devoção os grupos que escreveram páginas bonitas nos anais da comunidade: Grupo de Santa Rita, Congregados Marianos, Filhas de Maria e outros grupos que evoluíram em novas formas pastorais, mas que continuam vivos nas devoções. E assim, um grande movimento social, sobretudo com as principais necessidades dos povos da periferia. Como repetia São Luís Orione: “ nos mais miseráveis dos homens, brilha mais forte a imagem de Deus”.
Todas as pessoas da comunidade gostam de afirmar que nossa comunidade é muito festiva. Como uma paróquia que une DNA de italianos, caipiras, nordestinos e negros não seria festiva. São muitas as nossas festas. Festas juninas, festas das mães, dos pais, festas de aniversário, festa dos padroeiros e mais e mais.
Documentamos as festas, pois elas são muito importantes para nossas comunidades. As festas são promoções para dinamizar nossos trabalhos, restaurar a igreja, sustentar os trabalhos sociais e, sobretudo, para iniciar novas atividades (creche, espaço social e espaço cultural). As festas são atividades para unir a comunidade, fortalecer os laços, completar s forças e, assim sentir sempre mais a família d’Achiropita.
As festas são momentos de crescimento no amor de Deus e todos se sentem parte da família, pois a energia não é um delírio, mas uma mística que nos filia a Deus, sob o manto de Maria.
Descrevamos as festas. Festas coloridas e festas em preto e branco, pois nas festas, em todos os tempos, a comunidade se fortaleceu e se sentiu sempre mais família, família cristã, na diversidade cultural, étnica e social.
É uma grande festa, talvez não exista uma festa religiosa mais grandiosa que a Festa Nossa Senhora Achiropita. A palavra fenômeno tem sido banalizada, mas com certeza esta palavra pode designar nossa festa. A quantidade impressionante de fiéis devotos trabalhando, as equipes, as barracas, a quantidade enorme de todos os quitutes da gastronomia italiana faz de nossa festa a “grande festa”. Podemos mesmo dizer que esta é “a festa” de São Paulo.
É como uma grande engrenagem. À frente, os padres, orientadores espirituais da festa. Com eles, os cinco casais, nos setores da festa. Depois os chamados apoios, que subdividem estes setores, depois os responsáveis de barracas e núcleos e os voluntários. A camiseta com seu símbolo, os bonés e os crachás é a efígie de um exército de Maria que, pelas comilanças, pelas simpatias, pela oração encantam os milhares de convidados.
Jubilar é uma coisa boa. Jubilar é comemorar de forma festiva eventos de nossa história que queremos reviver, reanimar e repetir muitas vezes.
Há dez anos, comemoramos 80 anos. Achiropita no seu jubileu de carvalho, um carvalho forte e modesto. Forte porque tem muitos ramos de pastorais, de serviços de caridade e de grupos. Mas somos modestos, pois é preciso cuidar de nossa vitalidade, caso contrário, podemos perecer.
No entanto, os fieis se apegam aos seus padroeiros e sabem que nunca perecerem. Temos Maria d’Achiropita e São Luis Orione, porque haveríamos de perecer?
A comunidade celebrou o jubileu de prata, há tantíssimos anos e na alegria celebrou o jubileu de Ouro. Os últimos três jubileus foram mais festivos. Muita alegria, festa e teatro no “Settentanni”. A comunidade se alegrou e se rejuvenesceu. Há cinco anos, celebrou-se o “Jubileu de Diamante”, com teatros, passeios, peregrinações e inaugurações.
Foi celebrado o seu 80º aniversário. Alegria imensa e grande gratidão a Deus.
Estavam todos muito felizes. Querem crescer na comunidade, celebrar uniões, unir ainda mais nossa comunidade e atender mais e mais pobres.
Afinal, se o jubileu é do povo de Deus, a alegria deve ser do bairro e da cidade. Cada jubileu deve crescer a Igreja de Jesus Cristo. O tempo não parou e a Devoção Achiropita celebrou 90 anos e os fiéis continuam a escrever sua história nos anais da Igreja.
Para maior conhecimento da devoção e da história de Nossa Senhora Achiropita, sob a direção do Pe. Antônio S. Bogaz, foi realizado um filme, contando a história de forma poética e envolvente. O roteiro conta a história de um menininho que é criado por sua vovó Luiza, uma vez que foi rejeitado por sua mãe desde o nascimento. Ele vê sua querida vovó em grande enfermidade e pede socorro ao padre Giuseppe pedindo um milagre para salvar a mulher. O padre conta-lhe uma lenda que diz que par conseguir um milagre, o interessado deveria encontrar a relíquia de Nossa Senhora Achiropita. O menino fica impressionado e quer saber quais são as relíquias, mas tampouco o sacerdote a conhece. Ele adormece e acorda num lugar desconhecido, onde se depara com uma senhora, com uma criança no colo. Era a cidade de Rossano Cálabro, na Calábria/Itália, que o ajuda na busca da relíquia. Assim, caminha e revive a história da santa, com seus personagens num tempo e lugar distante. Haverá de encontrar a relíquia, mas o milagre é a grande surpresa do filme. O filme pode ser visto e adquirido na comunidade Achiropita da Bela Vista.
Apresentamos os versos de Luiz Antonio Bordini, que compôs em ritmo de tarantela, estilo típico italiano, que resume magistralmente a história, a devoção e a espiritualidade de Nossa Senhora, não pintada por mãos humanas.
Nossa história vamos todos relembrar
Foi um passado de coragem e de amor
Do sul da Itália pelo mar a navegar
O imigrante italiano aqui chegou
E no Brasil de tantas raças, tantas cores
O arco íris da aliança Deus formou
Nesta São Paulo da garoa, no Bixiga
A caridade Orione ensinou.
Ave Maria, Ave Maria e avante
Nossa Senhora Achiropita está radiante
Ave Maria, Ave Maria e avante
Tantas estrelas todas de diamante.
Ave Maria, Ave Maria e avante
Com a Madona da Ripalta e São José
Caminhando sempre em frente
Sob a luz de nossa fé
Fazendo o bem, sempre o bem,
o mal nunca a ninguém.
E no princípio era só a capelinha
E a quermesse que o povo alegrava
A Pia União, os Vicentinos e Marianos
Achiropita passo a passo se firmava
E a Divina Providência vendo o esforço
Lá do alto a nossa gente abençoou
A sementinha com carinho foi tratada.
A mão de Deus as nossas vidas transformou
Ave Maria, Ave Maria e avante…
Amar ao próximo sempre foi o nosso lema.
Ajudando com alegria nosso irmão
Vendo Jesus em cada rosto em cada dia
Seguimos sempre caminhando com Maria Nossa Senhora Mãe
Querida abençoada.
Este pé o presente que hoje queremos te dar.
Amar Jesus com muita fé por toda vida.
E aos mais carentes sempre, sempre ajudar.
O poema que apresentamos apresenta os sentimentos dos devotos da comunidade Achiropita, que abraçou esta espiritualidade e procura viver o sentimento maternal da Mãe de Deus e abrir o coração para os pobres mais pobres, levando solidariedade e coragem para os que ficaram esquecidos nas calçadas da grande cidade, nos seus cortiços, nas suas periferias:
Ser Achiropita é alistar-se no exército de Maria
Dedilhando, com devoção, as contas do rosário da alegria
Para ensinar aos pequeninos esta sublime prece de oração
Ser Achiropita é integrar-se no serviço dos empobrecidos
Enxugando, com ternura, as lágrimas dos entristecidos
Para evangelizar os incrédulos pelo serviço ao irmão
Ser Achiropita é inscrever-se nos foliões da fraternidade
Congregando, com mansidão, na esperança a feliz idade
Para cantarolar, de mãos entrelaçadas, o mesmo refrão
Ser Achiropita é unificar a família dos filhos de Deus
Irmanando, sem preconceitos, povos afro-ameríndios e europeus
Para compor, pelo sonho das raças, um povo irmão
Ser Achiropita é filiar-se a Luís Orione, santo bondoso
Palmilhando, com fidelidade, seus projetos de serviço caridoso
Para reconhecer, nos mais miseráveis, a beleza da criação
Ser Achiropita é rimar poemas em versos libertadores
Ofertando, com ternura, seus dons em ministérios transformadores
Para iluminar a vista bela, tendo “bixigas” de caridade no coração
Ser Achiropita é proteger com mantos maternidade a criançada
Acolhendo, com sensibilidade, anciãos e moradores da estrada
Para pintar sua imagem graciosa no próprio coração
Ser Achiropita é ser uma relíquia de Deus para a Igreja
GILMAR J. HERMES – A. S. BOGAZ
MÃE DOS MIGRANTES
A realidade dos migrantes é sempre uma tragédia na história dos povos. A busca por melhores dias e por uma sorte melhor sempre marcou a humanidade. Foi assim com o povo hebreu, que fugiu para o Egito para conseguir mais condições de vida. E foi assim com os mesmos hebreus, quando procurava por tempos melhores fugindo da escravidão do mesmo Egito. Foi assim com a multidão de nordestinos e interioranos que vieram para as grandes metrópoles e depois foram excluídos de seu progresso. Não é diferente com os povos norte-africanos, buscando um lugar ao sol num mundo cheio de sombras; tão igual a sorte dos indígenas nas cidades, dos haitianos em nossas periferias. Esta é a trajetória de Nossa Senhora Achiropita. Um andor que segue o povo devoto onde quer que ele vá, pelas estradas do mundo. Achiropita torna-se a força e a unidade dos povos migrantes que atravessaram o oceano, em situação de grande miséria, para trabalhar muito, para conseguir mais dignidade para seus filhos. Esta é a história desta devoção: um povo que ao redor de uma santa querida e companheira sobrevive, luta e vence, mostrando que a Mãe de Deus continua edificando um povo, que derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes.
PE. ANTÔNIO S. BOGAZ (PÁROCO DA PARÓQUIA NOSSA SENHORA ACHIROPITA)
PROF. JOÃO H. HANSEN (PROFESSOR E PESQUISADOR DAS DEVOÇÕES POPULARES)
(11) 3106-7235
www.achiropita.org.br
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PARÓQUIA NOSSA SENHORA ACHIROPITA
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